O CASAMENTO
O ser humano é um ser social e tende a entrar em contacto com os seus semelhantes e a formar com eles certas associações estáveis; entre essas relações estão o casamento e a família.
O casamento, segundo Gn 2.24, apresentam alguns fundamentos cruciais: (i) “deixar” pai e mãe, (ii) “unir-se” à sua mulher, (iii) “tornar-se” uma só carne. O último princípio reitera a intimidade do matrimônio; Thomas Adams afirma: “Assim como pela criação Deus de um fez dois, pelo casamento, ele de dois fez um”.
A história de Adão e Eva descreve o relacionamento entre marido e mulher como “uma só carne” (Gn 2.18s) e ilustra a relação entre Deus e Seu povo (Os 1-3), entre Cristo e a igreja (Ef 5.22s).
O casamento, no início do AT, era a conjunção entre o homem e a mulher, e o acordo mútuo entre as duas famílias envolvidas; a comunidade matrimonial efetivou-se juridicamente quanto um homem livre pagou o dote e tomou sua esposa (Êx 22.15s).
A história dos dois primeiros seres humanos revela o casamento monogâmico como a expressão da vontade de Deus; a poligamia apareceu depois na linhagem reprovada de Caim (Gn 4.19).
Matthew Henry escreveu: a mulher “não é feita de sua cabeça para estar acima dele, nem de seus pés para ser pisada por ele, mas de seu lado para ser sua correspondente, de debaixo de seu braço para ser protegida e de perto de seu coração para ser amada”.
Andreas Köstenberger e David Jones afirmam que não há paradigma mais importante do que o modelo que o próprio Deus estabeleceu para o matrimônio ainda em Gênesis 1—3.
*Fonte: CHAGAS, J. R. O. Antropologia: o ser humano na Bíblia e na teologia. Campo Grande: Didasko, 2024 (p. 53).
FAMÍLIA: CRIADA PARA SER BÊNÇÃO
Texto: Gênesis 4
Deus criou a família para ser bênção. A palavra hebraica barak – “abençoar” – só no AT aparece cerca de 330 vezes, incluindo referências à família, uma criação divina.
Gênesis 1.22 começa afirmando: “E Deus os abençoou, dizendo: Frutificai, e multiplicai-vos”.
Em seguida, em Gn 1.28, o Criador reitera bênção similar: “E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos”.
Depois do pecado (em Gn 3), Deus continua abençoando; Gn 5.2 confirma esta afirmação: “Macho e fêmea os criou, e os abençoou, e chamou o seu nome Adão, no dia em que foram criados”.
Nem o pecado mudou o caráter abençoador de Deus. Após o terrível juízo divino (leia Gn 6 e 7), Deus continua a abençoar: “E abençoou Deus a Noé e a seus filhos” (Gn 9.1).
Abraão foi chamado para ser bênção; Deus, de novo, incluiu a família; em Abraão seriam “benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.2,3). Deus reitera seu chamado para Abraão ser bênção: Gn 18.18; 22.18; 28.14; 26.4).
Ironicamente a primeira família criada por Deus foi, no âmbito relacional, um terrível desastre. Tinha tudo para ser bênção, mas fracassou. Gênesis 4 é um tratado teológico profundo sobre os principais problemas que, desde o início, atormentam as famílias.
Adão parece ter tido a dificuldade para se relacionar com a sua família. Deus já havia dito sobre Adão: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). Mas, mesmo com a família, ele parece estar só: ele não estava com Eva quando a serpente a enganou (Gn 3.1-6); não estava com Caim, quando sua alma se inclinou para o mal; não estava com Abel, quando sua vida foi tirada com crueldade. Adão aparece apenas para fazer filhos e desaparece (Gn 4.1, 25; Lc 3.38). Quando o homem, como esposo e pai, não cria vínculos e nem está presente, abre as portas para o desastre em seu casamento e família.
Já Eva fez uma escolha preferencial por um dos filhos. Ela, sobre Caim, declarou: “Alcancei do Senhor um varão” (Gn 4.1). Quando nasceu Abel, ela não disse nada (Gn 4.2). Caim parece ter sido o filho predileto. Caim viu-se como troféu, conquista, prodígio! Há teólogo respeitado que acredita que o apego dela por Caim se deva à crença de que ele seria a "semente da mulher" que resolveria o problema criado por Adão e ela no jardim do Éden. Essa ideia errada da mãe talvez contribuiu para estragar o caráter de Caim.
Caim, entre outras falhas no caráter, foi incapaz de lidar com rejeição e decepção. Está escrito: “e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou” (Gn 4.4,5). Há, nesses versículos, aprovação e rejeição ao mesmo tempo. Caim chegou primeiro. Ornamentou o altar. Caprichou na estética. Mas Deus o rejeitou e, para piorar, aprovou a vida e a oferta de Abel. Caim ficou perplexo. Decepcionado. Só sabia vencer. Caim não notou que sua oferta era boa, mas sua vida era má. A beleza da oferta não ofusca a vileza da conduta. 1 Jo 3.12, depois, revelará porque Deus não aceitou a Caim e nem a sua oferta: "Não sejamos como Caim, que era do Maligno e matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão eram justas".
Que a família cumpra o propósito de ser bênção!
Fonte: livro "Família Cristã", Pr. José Roberto Chagas